quinta-feira, 4 de abril de 2024

Povos Guarani Kaiowá e Krenak recebem reparação inédita por crimes cometidos pela ditadura militar

 


Em decisão histórica, a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Comissão de Anistia, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos, concedeu nesta terça, 2 de abril, a primeira reparação coletiva a indígenas. Com a anistia política, a União deve reconhecer e reparar, por meio de órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério da Saúde, violações a direitos humanos causados pela ditadura militar aos povos indígenas Guyraroká (Guarani Kaiowá), de Mato Grosso do Sul, e Krenak, de Minas Gerais.


Os pedidos de anistia aos povos originários foram apresentados pelo MPF em 2015. Nos documentos, o órgão apontou que, durante a ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985, as comunidades indígenas sofreram os mais diversos tipos de violações. No caso dos Guarani Kaiowá, políticas federais de povoamento do país levaram agentes estatais a promover traslados compulsórios dos indígenas, provocando mortes e desintegração dos modos de vida da comunidade. Os indígenas foram retirados das vastas áreas que ocupavam e confinados em espaços exíguos, definidos unilateralmente pelo poder público. As terras anteriormente ocupadas por eles foram liberadas à ocupação de terceiros, que tiveram a posse dos terrenos legitimada por títulos de propriedade. O afastamento violento de seus territórios impossibilitou o exercício de suas atividades econômicas, relacionadas principalmente à agricultura.


Os Krenak foram expulsos de seu território, presos e torturados, além de serem submetidos a maus-tratos e ao trabalho forçado pelo poder público. Entre as principais atrocidades estão a criação da Guarda Rural Indígena, a instalação de um presídio chamado de Reformatório Krenak, e o deslocamento forçado para a fazenda Guarani, no município de Carmésia (MG), que também funcionou como centro de detenção arbitrária de indígenas.


De acordo com o MPF, essas violações colocaram em risco a existência desses povos. "A perda do território tradicional teve impactos gravíssimos sobre os indígenas, colocando em risco a própria existência desses povos, inclusive diante da importância do território, do qual foram removidos compulsoriamente, para sua reprodução física e cultural", defendeu o MPF.


Os dois pedidos de anistia haviam sido rejeitados em 2022, pela anterior composição da Comissão de Anistia, no governo passado, mas foram analisados novamente após recursos apresentados pelo MPF. Com as novas decisões, as reivindicações indicadas pelos povos indígenas como medidas reparadoras da violência a que foram submetidos durante o regime militar foram integralmente acatadas.

Medidas de reparação

Em relação aos Krenak, parte das reivindicações aprovadas pela Comissão de Anistia foram apresentadas ao MPF em reunião realizada dia 1º de abril, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Além de reconhecer a condição de anistiados políticos, os indígenas pediram à Comissão que recomende ao Estado brasileiro a criação de programas de assistência psicológica continuada, bem como de iniciativas voltadas à cultura, incentivando práticas tradicionais no território.


Outra reivindicação apresentada foi a criação de um grupo de trabalho para discussão e formulação de proposta de lei que inclua os povos indígenas como destinatários das reparações econômicas, sociais e culturais referentes ao período da ditadura militar no Brasil. Os indígenas também pediram à Comissão que recomende à Funai a conclusão da demarcação do território tradicional de Sete Salões, considerado sagrado para o povo Krenak, e que o órgão reveja o seu posicionamento em ação civil pública na qual pediu a suspensão do processo de demarcação e titulação do território tradicional. Em 2021, ao julgar procedente ação civil pública ajuizada pelo MPF, a Justiça Federal determinou que a Funai concluísse o processo em 6 meses, mas a Funai recorreu da sentença.


“O povo foi expulso do território, aprisionado, feito de cobaia aos macabros experimentos da ditadura. Para que não exista uma repetição do passado, deve-se estabelecer obrigações”, apontam os indígenas no documento entregue ao MPF, que também foi lido na sessão da Comissão de Anistia.

Anistia aos Guyraroká 

Representante do MPF no julgamento do pedido de anistia ao povo Guarani Kaiowá, o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida destacou diversos casos de remoções forçadas vivenciadas pela etnia. “Nós, sistematicamente, violamos os direitos dessas populações. É necessário que a memória e a verdade saiam desse subterrâneo do Estado brasileiro, para que possamos promover a devida reparação aos povos indígenas”, ressaltou.


Ainda durante o julgamento, o procurador da República Edmundo Antonio Dias, responsável pelo pedido de anistia coletiva do povo indígena Krenak, apresentou também a reivindicação de que seja concluída a implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil, em Belo Horizonte (MG). A proposta é que o espaço tenha uma seção que trate exclusivamente das atrocidades massivas cometidas contra os indígenas.

“O Memorial da Anistia Política do Brasil é um compromisso assumido pelo Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que foi valorada positivamente pela Corte na sentença proferida no Caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia). A criação de uma seção destinada exclusivamente às graves violações cometidas contra os povos indígenas – que resultaram, segundo estimativa da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em pelo menos 8.350 mortes – constitui medida essencial no eixo da Memória e Verdade”, afirmou Dias.

Notícia publicada em: https://www.mpf.mp.br/ms/sala-de-imprensa/noticias-ms/a-pedido-do-mpf-povos-guarani-kaiowa-de-ms-recebem-anistia-coletiva-inedita-por-danos-causados-pela-ditadura-militar


Fonte: Assessoria de Comunicação Social do MPF em Mato Grosso do Sul www.mpf.mp.br/ms

Foto: Ministério da Justiça e Segurança Pública/Arquivo Nacional/Memórias Reveladas (Confinamento de indígenas Krenak durante a ditadura militar)


quinta-feira, 28 de março de 2024

Caos na BR-262: fuja dos congestionamentos gigantes

Fila de mais de 2 km antes da ponte na BR-262 (Navepress|28/03/24)

Aviso aos condutores: quem pegar a BR-262 no sentido Corumbá-Campo Grande está sujeito a uma espera de uma, duas ou até três horas na ponte sobre o rio Paraguai, que continua em reparos. Eu já havia postado neste blog detalhes sobre um iminente colapso na BR-262, que teve a situação agravada com a interdição da ponte sobre o rio Paraguai. Dois meses se passaram e o problema só se agrava, para desespero dos usuários que pagam pesados impostos mas não veem retorno em bons serviços na malha rodoviária. O tráfego de veículos na BR-262 funciona no sistema Pare e Siga, em pista única, e isso está acarretando congestionamentos gigantes, principalmente em horários de pico, quando grande parte das carretas levando minério tomam a rodovia em direção à capital e dali para outras cidades fora do Estado. Uma fila enorme, de mais de dois quilômetros, voltou a se formar nesta quinta-feira, 28 de março, véspera do feriado, penalizando a todos os que rumavam para a capital. Muitos desistiram da viagem e deram meia volta. Outros tantos aguardaram a longa espera na fila que começou a se formar por volta das 14h30. “Isso vem ocorrendo há três meses, é imprevisível, e a espera pode ser de uma a quatro horas”, contou um caminhoneiro brasileiro, que trazia uma carga de amônia da Bolívia e seguia em direção a São Paulo. Portanto, para quem pretende pegar a BR-262 e não passar longas horas parado na estrada, é bom ficar atento e consultar a PRF com antecedência para saber como está o fluxo de veículos. Do contrário, vai ficar sem qualquer informação e pode entrar numa fria. Está claro que existe uma crise de tráfego ocasionada pela multiplicação da frota de carretas e bitrens responsáveis pelo transporte de minério pela estrada e pela ponte, que não suportam tamanho volume de peso e da trepidação. No trecho até o início da ponte, em direção à capital, há buracos por toda a pista. E a ponte passa por reparos de concretagem após serem constatadas fissuras. Como saída, a balsa para transporte de veículos chegou a funcionar durante três dias, mas parou, e continua sendo uma opção para evitar um colapso que seria a interdição total da ponte. Pegar a estrada durante a madrugada é sempre uma alternativa perigosa devido aos acidentes com animais. Outra saída seria disciplinar e organizar os horários das saídas das carretas.

EM TEMPO: A má notícia é que nesta primeira semana de abril de 2024 a concessionária da malha ferroviária Bauru-Corumbá comunicou a inviabilidade de reforma dos trilhos e retomada dos serviços diante do alto custo do investimento, certa de R$ 18 bilhões. Diante disso o governo do Estado de Mato Grosso do Sul prontamente iniciou parceria com o de São Paulo em um projeto que visa escoar a produção por meio de uma ligação ferroviária de Três Lagoas a Aparecida de Taboado, para acesso a São Paulo e porto de Santos. Resumindo: Corumbá fica mais uma vez fora de projeto ferroviário e, sendo assim, cada ano que passa mais isolada. Um dos preços desse isolamento é que nossos jovens estão indo embora.

 


sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O tráfego insustentável de carretas na BR-262: colapso anunciado


Congestionamento na chegada a Corumbá: muitas carretas para pouca estrada (Navepress, 25/01/24

Nelson Urt/Navepress

E inevitável conversar sobre os tempos antigos sem sentir uma ponta de nostalgia e lembrar das viagens demoradas mas imperturbáveis do Trem do Pantanal, mesmo com a travessia da balsa. Agora, viajar pela a rodovia BR-262 no trecho entre a ponte sobre o rio Paraguai e a entrada para as mineradoras é correr riscos em uma pista perigosa e precária, interdições, congestionamentos de carretas e, em breve, até a uma paralisação total.

Minha viagem Campo Grande-Corumbá nesta quinta, 25 de janeiro, durou 1 hora e meia a mais do que o previsto. Devia chegar às 18h mas só conclui a viagem às 19h30 após ficar retido na rodovia BR-262 em uma fila de mais de 2 quilômetros, entre carretas, ônibus e carros de passeio, na entrada do distrito Maria Coelho. Os bitrens que não conseguiam acesso à entrada das minas do Urucum bloquearam a pista no sentido a Corumbá e provocaram um engarrafamento gigante, que para nossa sorte não se prolongou por muito mais tempo: a noite caia no Pantanal e os mosquitos estavam avançando.

Este, porém, é apenas um detalhe nos problemas provocados pelo super tráfego de carretas que podem se tornar frequentes e levar o transporte rodoviário de Corumbá a um colapso nesta temporada de férias e de Carnaval, quando muitos turistas estão sendo aguardados na cidade e outros milhares de corumbaenses, ladarenses e bolivianos retornam de férias.

O trecho de 50 km entre a ponte sobre o rio Paraguai e o posto Lampião Aceso da PRF continua bastante castigado, com ondulações, buracos e deformações, em um trajeto inseguro e perigoso, que requer atenção redobrada e redução de velocidade. Recentemente, parlamentares alertaram que as operações tapa buracos não são mais suficientes naquele trecho da entrada construída nos anos 80 e que agora carece de uma revitalização completa para se adaptar à nova realidade.

Mais ou menos 200 caminhões bitrens cruzam diariamente esse trecho da estrada levando em média 50 toneladas de minério em direção ao porto de Santos. São mais de 10 mil toneladas de minérios transportadas diariamente pela estrada, cada vez mais castigada pelo sobrepeso, mesmo em trechos em que receberam recapeamento completo.

E incrível como a ponte sobre o rio Paraguai trepida e balança quando passa uma carreta bitrem. Pude sentir pessoalmente essa trepidação enquanto aguardava com meu carro, sobre a ponte, a passagem de outros veículos, já que estrutura de concreto passa por reparos e também tem interdições. Com o tráfego pesado das carretas da mineração, o concreto da ponte não iria resistir por muito tempo. E para fevereiro, conforme anunciou a Agesul (Agencia de Gestão de Empreendimentos em Mato Grosso do Sul), devem ocorrer interdições totais em espaços de 24h, 48h e até 72 horas, o que exigirá o bloqueio total das duas pistas da BR 262. A Agesul não determinou as datas, que devem ser marcadas, provavelmente, após o Carnaval.

Neste caso de interdição total, os veículos de passeio terão como única opção a Estrada Parque (de terra) e a balsa para a travessia dos veículos no Porto Morrinho, sistema que foi utilizado até 2001, antes da construção da ponte. Só que as balsas não vão comportar as carretas da mineração e nesse período as mineradoras terão de suspender o transporte rodoviário de minério e se concentrarem no transporte hidroviário pelos três portos em funcionamento: Granel Química, Gregório Curvo e Porto Correa (este último reativado em 2023 pela Vetorial). Boa oportunidade para governantes, empresários e parlamentares voltarem a discutir sobre a revitalização da malha ferroviária, abandonada.

 

 

 

 


domingo, 19 de novembro de 2023

Rodrigo da Matta no Resistência Rock Bar: a voz de Corumbá


Nesses rincões do Centro-Oeste, onde despontam poetas como Chumbo Grosso, Lobivar Matos e Manoel de Barros, cantores e compositores como Dary Esteves, Almir Sater, Paulo Simões e Geraldo Roca, músicos da nova geração carregam um peso enorme de responsabilidade. Nesse aspecto, Rodrigo da Matta pede passagem e surge como a voz emergente de Corumbá. Com 20 anos de estrada como vocalista da banda Exilados, o cantor corumbaense apresenta um repertório eclético de rock balada que inclui Raul Seixas, Beatles, Legião, Cazuza, aquelas boas canções que sempre fazemos questão de voltar a ouvir. E na voz vigorosa e melódica de quem se torna referência na música contemporânea de Corumbá. Em mais uma noite dos 12 anos de movimento do Resistência Rock Bar, na rua Portocarrero, Rodrigo da Matta foi a dose certa e aclamada, com casa cheia na celebração deste 18 de novembro. Para os próximos sábados, o professor de História José Lourenço Santiago, âncora do bar, com assistência de Igor Punk e Paulo Baroah, mantem a diversidade libertária na programação incluindo um ato de manifesto pelos 40 anos do assassinato do líder indígena guarani Marçal de Souza. E a novidade da casa: uma vitrola para você ouvir seus discos de vinil. Acompanhe a programação pelo facebook: resistenciarockbar.


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Livro descreve extermínio de Gaza desde os anos 60

Neste livro publicado em 2013, há exatos dez anos, pelo sociólogo corumbaense Lejeune Mirhan, tem se a sensação de que acaba de ser escrito para esses tempos. A história se repete, com todos os seus requintes de perversidades. "E se Gaza cair..." começa descrevendo "o ataque do exército israelense na Faixa de Gaza no final dos anos 2008". E prossegue: "ocupação, cerco, bloqueio, ataque maciço de artilharia, testes de novas armas de fabricação israelense, restrição de água...este é o menu servido no cardápio do cotidiano israelense para a população palestina". 

O livro reúne 47 textos dos mais expressivos autores da literatura e imprensa independente e autônoma e lança luz sobre o vergonhoso sistema criado em 1962 e que tem seu apogeu no cerco à Faixa de Gaza, transformada em uma prisão a céu aberto. 

Corumbaense descendente de sírios e hoje um dos articulistas da geopolítica internacional mais requisitados do país, Lejeune descreve assim os acontecimentos de 2008: "a  guerra desencadeada por 22 dias de forma ininterrupta contra uma área densamente povoada como Gaza não foi contra o Hamas. Isso foi um mero pretexto. Não é uma guerra de Israel contra o Hamas, mas um massacre, uma limpeza étnica contra o povo palestino, dentro de um projeto neocolonial. E isso vem desde muito antes da existência do Hamas e mesmo da OLP (Organização para Libertação da Palestina), surgida em 1964". 

O livro esclarece que estamos diante de uma guerra permanente, com o objetivo de extermínio de um povo. Em 2008, conforme relata Lejeune, 53 escolas foram arrasadas, inclusive duas da ONU, onde morreram 40 crianças. E pelo menos dois hospitais foram inteiramente destruídos. Mais de 1500 mortos. Qualquer semelhança com os ataques recentes não é mera coincidência, mesmo porque o bloqueio permanece desde aqueles tempos, com novos e sistemáticos ataques e novas armas, como a munição à base de fósforo branco, que causa graves e prolongadas queimaduras na pele.

Em 2014, conforme lembrou Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, novo bombardeio israelense causou graves danos a 40% das habitações de Gaza, deixando 90% da população sem água adequada. "A população de Gaza vive uma situação análoga a um campo de concentração", constata Ualid Rabah nos dias de hoje. E enquanto Gaza é reduzida a pó, perguntas permanecem sem resposta: quem são os responsáveis por esses crimes de guerra? Quando e por quem serão julgados? 

E se Gaza cair...Lejeune Mirhan (org.), coletânea de 47 textos de autores independentes, 278 páginas. Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2012.



 

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O Fantástico Relógio da Rute: onde o tempo gira a nosso favor


O Fantástico Relógio da Rute, livro infantojuvenil lançado dia 13 de outubro na Biblioteca Helô Urt, em Corumbá, leva a assinatura da pedagoga campo-grandense Eva Vilma, escritora revelação do Mato Grosso do Sul. Com ilustrações de Paulo Alaor, o livro é endereçado ``para toda criança, grande ou pequena, que em cada canto do mundo descobre no tempo um amigo, não um senhor´´. Rute achou o relógio no baú de lembranças da vó Regina.  Rute com o relógio tem o tempo a seu favor. O relógio com a Rute aprendeu sobre o amor. Para além da poesia que exalta as qualidades do tempo como companheiro nas horas certas e incertas, os olhos de cronista de Eva vão encontrar na periferia de Campo Grande uma menina que vive em um bairro alagado pelas chuvas: a Sara dos lábios de mel, uma amiga de Rute. A personagem é inspirada na garotinha Sarah Arruda Rocha Cantero, de 12 anos, que a escritora conheceu na Rua Poética, em uma comunidade periférica frequentemente afetada pelas enxurradas, e transportou para as páginas do livro. Enquanto olhava para as crianças durante o lançamento do seu livro no bairro Nova Corumbá - o bairro que abriga o lixão municipal de Corumbá – a escritora podia estar diante de outras Saras que vivem os mesmos tormentos tão comuns nas periferias esquecidas. Nada, porém, suficientemente forte para tirar dessas meninas e meninos a dignidade, o talento, a criatividade. Nada que lhes tire os bons predicados do tempo. De uma das garotinhas presentes a escritora ganhou um desenho feito a lápis preto ali mesmo, naquele tempo, um desenho do seu rosto. O Fantástico Relógio da Rute é um livro irretocável, admirável e transformador. Nele, Eva Vilma se descreve como ``uma fantástica menina que tem mil relógios mágicos para dividir seu tempo entre o chão da sala de aula para alfabetização, a missão de ser mãe, a atividade na roda de capoeira, a escrita de livro infantis e de poesias e o ativismo cultural pelo Coletivo Tarja Preta de Literatura Independente´´. Dessa forma, ela sempre teve vontade de achar um relógio mágico com um tempo em que coubessem todas as suas vocações. E conseguiu. Não por milagre, mas por resistência, luta e dedicação. 

Serviço: O Fantástico Relógio da Rute, literatura infantojuvenil, ancestralidade, emoções, Avá Editoria, 2023. Textos: Eva Vilma Souza Barbosa. Ilustrações: Paulo Alaor. Preço de capa: R$ 30,00. 




 


A estudante Rayanne e a escritora Eva: tempo de desenho



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Quando o ouro não Vale o quanto pesa


O ouro brasileiro deixou buracos no Brasil, templos em Portugal e fábricas na Inglaterra. A frase é do escritor Eduardo Galeano e resume o que representou o ciclo da exploração de ouro, que se tornou a maior fonte econômica brasileira entre os séculos 17 e 18. Mas, lendo até o final, vocês verão que, passados 300 anos, o ouro continua fazendo misérias em solo brasileiro, além da já conhecida garimpagem. 

Ao lado de Minas Gerais e Goiás, nosso Mato Grosso detinha uma das maiores jazidas no ciclo do ouro, lá por volta dos anos 1700. Foi um ciclo vigoroso que influenciou até a mudança da capital federal de Salvador para o Rio de Janeiro para que houvesse maior rigor na fiscalização pela Coroa portuguesa, que abocanhava 20% de toda a produção brasileira. Havia muita sonegação e venda clandestina.

Passados mais de 300 anos, o ouro continua sendo explorado no Brasil e em torno dele gravitam gravíssimas questões como o garimpo desenfreado que tantos impactos provocam na Amazônia e aos povos originários. O Brasil é um dos dez maiores produtores de ouro do mundo, com a movimentação de 106 toneladas. E para onde vai tanto ouro? Para fazer funcionar seu aparelho celular, por exemplo.

Não bastasse tanta ganância e sequelas provocadas pelo metal, recentes investigações de comissões parlamentares de inquérito no Pará acabam de constatar que a mineradora Vale vendeu ouro para fora do Brasil sem pagar royalties por pelo menos dez anos.

O minério, segundo as CPIs, era extraído de duas minas de cobre exploradas pela empresa nos municípios de Canaã dos Carajás e Marabá no sudeste paraense.

De acordo com as CPIs, a empresa deixou de pagar R$ 446 milhões referentes à Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) pela exploração de ouro não contabilizada nas duas cidades.

Experimente você, caro contribuinte, ficar sem pagar seu imposto de renda sobre o seu salário à Receita Federal, uma vez sequer, para ver o que acontece.

CFEM é o tributo conhecido como royalty da mineração. É o mesmo imposto que a Vale pagava aos municípios de Corumbá e Ladário quando explorava ferro e manganês no Urucum, e o mesmo que pagam as mineradoras que a sucederam na exploração das minas.

As informações foram levantadas pela CPI da Vale na Assembleia Legislativa do Pará e pela CPI do Salobo na Câmara de Vereadores de Marabá.

Essas mesmas CPIs do Pará também calculam que a omissão das vendas de ouro pela Vale resultou num rombo de R$ 20 bilhões na balança comercial brasileira. É triste saber disso em um País de enormes riquezas minerais imerso em uma grave crise habitacional e de alimentação, com milhares passando fome. E será que o governo brasileiro vai atrás dos responsáveis ou a população de baixa renda continuará pagando a conta? 

E como anda o pagamento dos impostos CFEM pelas mineradoras aos municípios de Corumbá e Ladário diante do grande volume de exploração e movimentação de caminhões que tomam conta das avenidas 14 de março e Rio Branco? A Câmara de Vereadores está atenta à contrapartida de todo esse impacto ambiental?

A reportagem completa foi publicada neste 13 de julho de 2023 pelo site UOL que você pode conferir no link abaixo:

 CPI acusa Vale de vender ouro e pagar tributo como subproduto de cobre (uol.com.br)